sexta-feira, 24 de julho de 2009

Dicas culturais da semana, 24-30/07

Como anunciado, pretendo recomendar alguns eventos que acontecem na semana. Prioritariamente em Curitiba. Tenho minhas dúvidas se isso será de alguma valia, mas vou levando. Confiar cegamente no que indicarei realmente não parece ser sensato. Sugiro então que se tiver algum interesse em algo sugerido procure mais informações. Para não colocar a sua conta e a minha em risco (hahaha).
Deixo um link ao lado de cada sugestão contendo sinopse, localização, data e custo. Tento priorizar as opções de fim-de-semana e mais em conta.

Cinema
Apenas o Fim, de Matheus Souza. [informações clique em: +]
Inimigos Públicos, de Michael Mann. [+]
Sinédoque, Nova Iorque, de Charlie Kaufman. [+]
Horas de Verão, de Olivier Assayas. [+]
Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto-Retratos), de Paulo Sacramento. [+]
A Morte Inventada, de Alan Minas. [+]

Teatro
Romeu e Julieta - espetáculo Teatral (ACT), no Guairão. [+]
Será um espetáculo com entrada franca, como tradicionalmente proporciona o Teatro Guaíra no último domingo de cada mês. Vai ocorrer às 11 horas. Chegando uns trinta minutos antes dá para conseguir um ótimo lugar. Segundo a própria sinopse disponível, o espetáculo é direcionado à adolescentes. Como não o vi, não sei o que esperar. Mas acho que não vão chegar ao ponto do casal ser "emo" e a trilha NxZero.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Resnais ou o documentário político

O ano da França no Brasil está rendendo variadas atrações culturais. Pena grande parte delas ocorrerem, como tradicionalmente, no eixo Rio-São Paulo. Contudo, essa semana houve na Cinemateca de Curitiba a Mostra Alain Resnais.
Cineasta de grande destaque, ainda está vivo e produzindo. O Festival de Cannes desse ano exibiu o mais recente longa do francês. Segundo a crítica, o velhinho desbancou muitos dos jovens diretores com um filme à Nouvelle Vague.
Em cartaz na Cinemateca estavam boa parte dos mais representativos filmes do diretor. Na ficção: Hiroshima, meu Amor, um dos principais filmes do cinema, inovador na estética, roteiro e interpretação dos atores; O Ano Passado Em Mariembad, que mexe no espaço e tempo da narração. Foram exibidos também Meu Tio na América, Stavisky ou o império de Alexandre, Muriel ou o tempo de um retorno.
Fui na quinta-feira, no último dia da Mostra, para conferir cincos curtas e média metragens documentários.
Sobre alguns deles é que vou falar um pouco mais detalhadamente.

Guernica

Com a narração de um poema, tomando como base pinturas, desenhos e esculturas de Picasso - principalmente a famosa tela homônima - e utilizando imagens da cidade destruída, Resnais documenta a devastação e o sofrimento ocorridos em Guernica, em 1937.

Como sabem da história, a tradicional capital basca sofreu um bombardeio teste, pré-segunda guerra. Com a conivência do general Franco, os alemães testaram as armas aéreas contra a população durante a Guerra Civil Espanhola.


A tela de Picasso, como podem ver acima, mostra a confusão e horror em forma distorcidas. A lâmpada elétrica representa o relâmpago da explosão. A mulher, com a cabeça lançada para trás, grita, gesticula ao mesmo tempo em que segura o bebê inerte. Derrotado, o patriota aparece no primeiro plano com a espada quebrada. Alguém corre para a multidão. Uma casa desmorona.
Alternando de planos e focos na tela, com um ritmo diferenciado na leitura do texto e diferentes modulações sonoras o diretor reforça a carga trágica do fato.
Impressionam a Guernica de Resnais e Picasso por serem protestos pessoais que têm abrangência e significado coletivo.


As estátuas também morrem


O início do documentário, ao espectador mais desavisado, pode parecer um ensaio sobre a arte africana. Ainda mais pela admiração do diretor pela arte e a influência das mascaras africanas na arte moderna (no Cubismo, na figura de Picasso, principalmente).
Mas a película não é nada disso. Condena contundentemente o colonialismo e racismo europeu.
Tanto que foi proibida na França entre 1953 e 1963 através do Dectero Laval. Esse mesmo decreto impedia a filmagem pelos próprios africanos, configurando um obstáculo a cinematografia do continente.
Com uma narrativa irônica e crítica, passam na tela cenas de pessoas, artistas e esportistas negros em confronto e fuga. Opondo sempre etnias, colonizador e colonizado. Uma crítica devastadora ao Ocidente.


Noite e Neblina


Sobre o Holocausto é uma obra que não se pode ignorar. Seja cinéfilo ou não. Ou seja, se vive é preciso que veja. François Truffaut disse que é uma "aula de história cruel mas merecida".
O documentário de 32 minutos foi feito para celebrar os dez anos da liberação dos campos de concentração e homenagear as milhões de vítimas.
O cineasta foi convencido de filmar ao ser apresentado ao poeta Jean Cayrol, um sobrevivente de campo de concentração. O músico Hanns Eisler compôs a trilha sonora. Resnais passou a coletar imagens de cinejornais, fotografias e todo tipo de documento que mostrasse os campos de concentração, dentre eles Auschwitz e Sachsenhausen.
Opõem-se as atuais gramíneas verdes e o céu azul, quase pastoris, ao horror do cadáveres que ali estavam a apenas alguns anos. Misturam-se as filmagens atuais com as históricas.
Descreve pormenorizadamente desde a construção dos campos de concentração, passando pelo cotidiano que ali existia até a extinção. Toda a desnecessária desumanidade nazista está ali: experiências, (…), a irracional acumulação e a organização do extermínio.
As vítimas são exibidas desde o embarque nos trens até o genocídio, cremação, acumulação de cadáveres.
Imagens atuais mostram os dormitórios, as salas de experiências, as câmaras de gás com as marcas das unhas das vítimas no teto, os fornos.
Mostra os julgamentos. Os Capos e oficiais dizendo não serem os responsáveis. Mas quem são então os responsáveis, o filme questiona e nós nos questionamos.
Expostos ao máximo da constante oposição e do temor do antigo e nefasto contra o colorido e vivo o documentário termina num questionamento e reflexão: “Ainda existe os que olham sinceramente para estas ruínas como se o antigo monstro dos campos estivesse morto por debaixo dos escombros, que fingem ter esperança à frente desta imagem que se afasta como se curasse a peste totalitária. Nós que fingimos acreditar que isto pertence a um único tempo e a um único país e que não olhamos à nossa volta. E que não ouvimos que se grita sem fim."